terça-feira, 25 de novembro de 2014

Estatuto da Família proíbe casais gays de adotar filhos

Ronaldo Fonseca
O relator do projeto de lei do Estatuto da Família (PL 6583/13), deputado Ronaldo Fonseca (Pros-DF), apresentou na última segunda-feira (17) substitutivo à proposta. Ainda não há data prevista para a votação do texto na comissão especial que analisa a matéria.
Fonseca manteve a definição de família como o núcleo formado a partir da união entre homem e mulher, por meio de casamento ou união estável, ou comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes (monoparental). Essa é mesma definição contida no projeto original, de autoria do deputado Anderson Ferreira (PR-PE).
Adoção
O relator inseriu no texto outro dispositivo polêmico: o substitutivo modifica o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA - Lei 8.069/90) para exigir que as pessoas que queiram adotar sejam casadas civilmente ou mantenham união estável, constituída nos termos do artigo 226 da Constituição. Como o texto constitucional reconhece explicitamente apenas a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, na prática o substitutivo proíbe a adoção de crianças por casais homossexuais.
Hoje, embora a adoção de crianças por casais gays não esteja prevista na legislação, ela tem sido garantida pela Justiça. Porém, para Fonseca, “a concessão pelos tribunais da adoção homoafetiva desconsidera o fato de que o tema de pares homossexuais formando famílias ainda não está pacificado na sociedade”. Na visão dele, “trazer a criança para o meio de um furacão é no mínimo desprezo à proteção dos direitos desse menor.”

A proposta permite, porém, a adoção por solteiro ou por uma única pessoa. “Isso não seria contrário à plenitude do interesse da criança e teria o paralelo com a família monoparental”, afirma Fonseca.
Interpretação da Constituição 
O relator disse que o projeto mantém o conceito de família existente na Constituição e que não pode mudar o texto constitucional por meio de um projeto de lei. “Para mudar uma Constituição, teria que ser uma proposta de emenda à Constituição”, afirmou.
O deputado Jean Wyllys (PSol-RJ), no entanto, destaca que o projeto contraria decisão do Supremo Tribunal Federal, que, “como intérprete legítimo da Constituição”, já reconheceu, em 2011, a união estável homoafetiva (formada por pessoas do mesmo sexo) como entidade familiar.
Além disso, ele acredita que estatuto viola princípios constitucionais, ao institucionalizar a discriminação. Para o parlamentar, o estatuto tenta impor um modelo familiar único, não respeitando a diversidade de arranjos familiares existentes hoje na sociedade brasileira.
Já Ronaldo Fonseca considera a decisão do Supremo equivocada, argumentando que o tribunal “usurpou prerrogativa do Congresso”. Para ele, a união entre homem e mulher, da qual se “presume reprodução conjunta”, é o “sustentáculo da sociedade” e a única que deve ensejar “especial proteção do Estado”.
Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
Jean Wyllys
Wyllys pretende ir até o Senado para impedir a aprovação da proposta.
Resistência
Jean Wyllys, que integra a Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos, ressalta que a comissão especial que analisa a matéria de forma conclusiva é composta majoritariamente por deputados evangélicos, que devem votar favoravelmente à matéria.
Projetos que tramitam em caráter conclusivo são analisados apenas por comissões. Se for aprovado na comissão especial, o projeto do Estatuto da Família só será analisado pelo Plenário se houver recurso nesse sentido assinado por, pelo menos, 51 deputados.
Segundo Jean Wyllis, se não for possível barrar a tramitação do projeto na Câmara, a frente vai atuar no Senado para impedir a aprovação da proposta.
Participação popular
Uma enquete sobre o projeto, promovida pelo site da Câmara já recebeu mais de 4,3 milhões de votos desde fevereiro. A enquete pergunta se o internauta concorda com a definição de família proposta pelo estatuto. Até hoje, 50,6 % dos participantes votaram contra o projeto, 49,07% a favor e 0,31% disseram não ter opinião formada.

Aprovado em comissão projeto que tipifica crime de exposição pública da intimidade sexual  

A Comissão de Seguridade Social e Família aprovou um projeto que estabelece o crime de exposição pública da intimidade sexual. A proposta prevê pena de três meses a um ano de prisão para quem publicar indevidamente imagens íntimas de outras pessoas.

A atriz Carolina Dickman foi vítima, deu visibilidade a este tipo de violência e a legislação mudou. Com a lei de Cibercrimes, aprovada em 2012, a divulgação de imagens íntimas obtidas pela invasão de computadores, celulares ou outros dispositivos passou a ser punida com até um ano e oito meses de prisão. Agora, um outro projeto quer ampliar o alcance da lei e punir com três meses a um ano de detenção também quem divulgar sem autorização qualquer tipo de imagem íntima, mesmo que na hora da fotografia ou filmagem houvesse a concordância da pessoa retratada. O relator do projeto da Comissão de Seguridade Social, deputado Doutor Rosinha, do PT do Paraná, explica que a pena aumenta se a divulgação for feita como vingança.

Coordenador da Frente Parlamentar de Combate aos Crimes Cibernéticos, o deputado Sandro Alex lembra que o Marco Civil da Internet já dá aos usuários brasileiros as ferramentas para descobrir quem está por trás de qualquer publicação ofensiva na rede. Ele apoia o projeto e defende que toda pessoa agredida busque a Justiça.
Reportagem — Carolina Nogueira

Mapa da PRF aponta recorde de pontos de exploração sexual de menores em BRs

A sexta edição do "Mapeamento dos Pontos Vulneráveis à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias Federais Brasileiras", divulgada nesta terça-feira (25) pela PRF (Polícia Rodoviária Federal), identificou um número recorde de pontos propícios à exploração sexual de menores nas BRs. Ao todo, 1.969 locais foram mapeados entre 2012 e 2013.
O número apresentado representa uma alta de 9% em relação ao estudo apresentado no ano passado, quando foram identificados 1.776 pontos. O estudo é feito pela PRF em parceria com a OIT (Organização Internacional do Trabalho), Childhood Brasil, Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e MPT (Ministério Público do Trabalho).
Arte/UOL
Em números absolutos, Sudeste lidera casos
Os organizadores, no entanto, dizem que o aumento não necessariamente é negativo. "Este aumento é percebido de forma positiva pela PRF e parceiros, visto que este órgão tem investido, ao longo dos últimos anos, no treinamento dos policiais rodoviários. Pontos que antes não eram vistos como problemáticos, hoje têm sua vulnerabilidade detectada e medida, fruto de maior capacidade e refinamento por parte dos policiais na identificação desses locais", afirma o estudo.
Para se basear na definição da vulnerabilidade, o estudo classifica como pontos propícios os ambientes ou estabelecimentos com "presença de adultos se prostituindo, inexistência de iluminação, ausência de vigilância privada, locais costumeiros de parada de veículos e consumo de bebida alcoólica."

Governo lança telefone para denúncia de racismo em hospitais e postos

O Ministério da Saúde lançou nesta terça-feira (25), em Brasília, uma campanha para incentivar denúncias de racismo no Sistema Único de Saúde (SUS). O slogan da campanha é: "Racismo faz mal à Saúde. Denuncie!".
Por meio do número 136, do Disque Saúde, as pessoas poderão denunciar qualquer situação de racismo que tenham presenciado ou sofrido em ambientes da rede pública de saúde. 
A ação é feita em conjunto com a Secretaria de Direitos Humanos e a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, e leva em conta casos de racismo informados ao Ministério da Saúde. Dados do ministério demonstram que uma mulher negra recebe menos tempo de atendimento médico do que uma mulher branca. 
"Não é o SUS que é racista. O SUS expressa, através dele, aquilo que a sociedade produz", disse André Bonifácio, Secretário de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde, durante o anúncio.
Os profissionais do Disque Saúde passaram por treinamento para identificar denúncias caracterizadas como racismo e, ao serem identificadas, serão direcionadas aos órgãos competentes. Os casos servirão de mote para a criação de novas políticas públicas que impeçam o racismo no SUS.
A campanha está sendo lançada pouco depois do Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro. 
"Produzir a igualdade na diversidade que é o grande desafio", disse o ministro da Saúde Arthur Chioro. "Dados mostram que o preconceito produz mais doenças, mais mortes e sofrimento", afirmou o ministro.
Saúde dos negros
Através do número 136, a população poderá, ainda, obter informações sobre doenças mais comuns entre os negros e que exigem um maior acompanhamento. Caso do diabetes tipo 2, por exemplo, tem taxa de mortalidade, a cada 100 mil habitantes, de 34,1 habitantes entre os negros, enquanto na população parda, a doença atinge 29,1 habitantes e, entre a branca, 22,7. 
A anemia falciforme também é encontrada em maior escala entre a população negra. 
O Ministério da Saúde iniciou ainda duas novas ações para reforçar o combate ao racismo no SUS. Em uma delas, mais de 2,4 mil profissionais de saúde foram inscritos em módulo virtual de educação à distância sobre Saúde Integral da População Negra.
Cem projetos de pesquisa científica voltados para a saúde da população negra foram inscritos em iniciativa conjunta com a CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
A ação também marca os dez anos da Política de Saúde da População Negra. que, segundo a pasta, firmou compromisso para a construção da equidade racial em saúde para a população negra, com atenção às comunidades quilombolas.